sexta-feira, 3 de abril de 2009

O que você faz quando ninguém te vê fazendo?

Tive que ler o Ensaio (sobre a cegueira ) duas vezes para entender o que senti quando terminei o livro. Bons autores fazem isso comigo: me puxam para dentro da história. O tempo todo me vi habitando uma cama entre o primeiro cego e o ladrão, no manicômio. E depois da segunda leitura percebi que estava sentindo um misto de vergonha e medo. Vergonha ao perceber que na vida real todos nós vivemos como cegos de primeira viagem, sem saber como nos defender, incapacitados pelo medo. Somos roubados, espinafrados, violentados o tempo todo, na cara dura e não fazemos nada. É IR, IPVA, IPTU, ISS, IPI. É impunidade para as grandes empresas que tratam os consumidores como insetos (Se alguém já tentou reclamar seus direitos em um 0800 me entenderá!) - Isso estava no contrato que você assinou; só damos garantia por 30 dias; se o seu notebook novinho está há 60 dias na assistência técnica não é problema nosso. - É a banalização dos sentimentos, do respeito, do compromisso. É o cara que joga a latinha de cerveja pela janela do carro. É a Amazônia sendo desmatada, é a dona de casa que lava a louça com a torneira aberta o tempo todo, é o ladrão que entra na sua casa, rouba o que é seu e ainda agride as pessoas que você ama, é a justiça injusta que nos defende. É quem governa o mundo e só sabe olhar para o próprio umbigo. É quem pensa ser dono da verdade. Pirei. Saramago me fez pirar. Pirei a ponto de , no dia seguinte, acordar com uma conjuntivite grau mil. Medo de ver.

Um comentário:

  1. Rê,
    Estamos acostumados a ver, mas não a enxergar o entorno. Descondicionar o olhar... Todos os dias passamos pelos mesmos lugares e sempre achamos que está tudo igual, mas as pessoas que passam na rua não são as mesmas, a parede da casa está um pouco mais descascada, alguma parede não existe mais. Olhamos muito para a frente, porém pouco para os lados.
    Na fotografia falamos muito em "descondicionar o olhar", olhar aquilo que não vemos no dia-a-dia. Não sou fotógrafa, mas quando viajo busco encontrar o diferente e retratá-lo. Guardar aquela imagem que me fará recordar sempre daquele novo local desconhecido.
    O problema é que também condicionamos o nosso olhar em nossas vidas e deixamos de ser atentos a detalhes que a rotina ofusca.
    Por fim, obrigada pela sua amizade, lágrimas ainda correm pelo meu rosto, mas obrigada por ter se preocupado!
    Um beijo!

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